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Arlindo Lopes da Silva – Um carioca que usava a fé como meio para resolver tudo

Rosi Oliveira / Especial DS 13/10/2022 Memória

Em 1960 a família iniciou os preparativos para a mudança e acabaram por vir em um caminhão “pau de arara”

Arlindo Lopes da Silva nasceu em Macaé

Um carioca que usava a fé como meio para resolver tudo

Arlindo Lopes da Silva é filho de Pedro Francisco Lopes e Clarinda Nunes Franco, e nasceu no dia 11 de abril de 1912, na cidade de Macaé, Estado do Rio de Janeiro. Assim como a maioria dos desbravadores da ainda desconhecida Tangará da Serra, nasceu em uma família bastante humilde, que tinha na fé sua maior riqueza. Arlindo nasceu em um lar evangélico, e desde muito cedo dedicava seus dias, problemas, alegrias e sonhos ao Criador.

Em uma família sem posses, desde cedo já ia para lavoura com os pais e os irmãos: Romeu, Eurico, Jonas, Nathan, Gracinda, Oneida e Rute, e essa tornou-se sua profissão. 

Aos 23 anos Arlindo conheceu Eurides, o amor da vida inteira, e se casaram no dia 19 de setembro de 1935 na cidade de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo.

Tão logo se casaram, o casal já foi agraciado com o primeiro filho dos 23 que se seguiriam. Desses, apenas 14 “vingaram”, como se dizia antigamente. E desses 14, seis já faleceram. Os outros nove morreram ainda bebês ou natimortos.

Segundo a filha do casal, Loide, que nos contou a história de Arlindo, o pai não permitia de formaSete filhas de Arlindo e Eurides: Eularinda, Lídia, Vency, Arlinda, Jessé, Vasti e Gracia. Prima Edite e filho Hélio Lopes alguma que a esposa fizesse uso de anticoncepcional. E então, dessa união, vieram Lórem, Leonidas, Moacir Reinaldo, Jonatas, Eularinda, Lídia, Hélio, Vasti, Vency, Arlinda, Loide, Gracia, Jessé e Rubens. 

Com uma família tão numerosa, era necessário trabalhar incessantemente, e isso Arlindo fazia com alegria e sem reclamar.

Do Rio de Janeiro, a família muda-se para Martinópolis, São Paulo. Ali, Arlindo torna-se meeiro de um fazendeiro na plantação de algodão, mas algum tempo depois, muda-se novamente, e vai para Londrina, trabalhar também como meeiro. Na década de 1950 foi para Paranavaí, no Paraná, e tornou-se novamente meeiro, aonde veio a adquirir 20 alqueires de terra.


EM 1960: A chegada em Tangará da Serra em caminhão “pau de arara”

Como tinha uma forma singular de se expressar, pregando a palavra de Deus e também por ser ótimo conselheiro, fazia amigos com imensa facilidade, talvez por sua calma, fazia com que as pessoas gostassem de sua companhia.

Uma dessas pessoas foi Vanderlei, que possuía terras aqui em Tangará da Serra, e que estava em busca de realizar uma permuta de terras no Paraná.

Arlindo ouviu a proposta e ficou interessado. Decidiu então enviar o filho mais velho, Lórem, para conhecer o lugar e avaliar as terras e as condições da longínqua “Terra dos Tangarás”.

Ao chegar aqui, Lórem gostou do que viu e contou ao pai que fechou negócio, fazendo a permuta nas terras. Diante disso, no ano de 1960 a família iniciou os preparativos para a mudança e acabaram por vir em um caminhão “pau de arara” com a família de um amigo, José Jorge, que também queria conhecer as terras.

“Eu me recordo que era lá em cima que a gente vinha e ainda tinham os animais”,

recorda a filha, emocionada. 

Segundo relatos da filha, foram dias de viagem até chegarem em Nova Olímpia. Ali, Arlindo deixou a esposa com os filhos menores, e subiu a serra com os maiores para abrir a terra.

“Meus irmãos mais velhos vieram para Tangará com mantimentos nas costas, ferramentas e arrumando a estrada porque não subia carro direito. Vieram naquela picada das ‘antas’ arrumando a estrada. Aqui já tinha um pouco de gente, umas cinco ou seis famílias, mas a estrada era péssima. Aquela Pedra Solteira ali mesmo foi uma tristeza. Eles vieram para chegar aqui no Patrimônio que só tinha a Avenida Brasil, que era só poeira. E daqui ainda foram abrir estrada pro sítio porque aqui tudo era mato”,

narra Loide.

A construção da moradia durou seis meses e foi edificada nas proximidades do Córrego Estaca, atrás da atual prefeitura.


A certeza que a Palavra de Deus nunca volta vazia

Tão logo chegou a cidade e construiu a casa, Arlindo já deu início ao serviço de pregação da Palavra de Deus. E para isso não media distâncias. O que não dava para as pernas era realizado a cavalo, e isso sempre com os filhos como companhia. Arlindo jamais deixou de realizar o culto da família e de incentivar os filhos no caminho da fé.

Como era membro da Igreja Batista no Paraná, e decidido a iniciar a obra missionária em Tangará, logo iniciou como um pastor leigo na cidade e deu início a realizar cultos domésticos em família todos os dias de manhã, e à noite realizava cultos nas casas dos vizinhos. 

“Papai foi um homem muito calmo, muito paciente porque se ele não tivesse essa calma, essa paz, ele não teria resistido. Mas o que mais destaca é a confiança em Deus. Foi o que eu mais aprendi”,

conta a filha, bastante emocionada. 

“Eu aprendi a minha fé com ele”,

ressalta.

Esse relato da filha pode ser comprovado em um fato inusitado vivido pela família que ficou desesperada, enquanto Arlindo se manteve calmo e com sabedora resolveu sem nenhum rompante de desespero.

“Certo dia nós viemos para o culto à noite, fizemos o culto e fomos embora. Quando chegamos lá em casa, percebemos que estava faltando alguém, e justamente o mais novo, o Rubens. Ficamos nervosos, mas papai se manteve calmo e logo disse que ele devia estar na igreja com certeza, embora a gente pensasse um monte de coisas. Ele, com toda calma, voltou e achou ele dormindo em um banco da igreja”,

relembra, rindo bastante.

Dedicado, fez parte do primeiro Conselho Executivo na implantação da Primeira Igreja Batista da cidade de Tangará da Serra e sua atuação gerou o embrião da Primeira Igreja Batista de Tangará. O trabalho cresceu e se estendeu para as glebas Palmital, Progresso e Água Branca, aonde implantou os pontos de pregações. Todas estas frentes contaram com a presença de Arlindo, que no lombo de cavalo, e acompanhado de suas filhas, dava assistência às novas frentes missionárias, e sem falhas. 

Arlindo viu o primeiro Pastor tomar posse: Tércio Nicolau Gomes e sua esposa Maria José e o filho Paulinho que assim como ele, vieram do Rio de Janeiro.

Além de cooperar ativamente no crescimento da obra, Arlindo contribuiu também com trabalho social, tornando-se juiz de paz, realizando casamentos e aconselhando famílias em conflitos, além de dar apoio ao delegado da cidade. 

Após muitos anos vivendo no sítio, a família muda-se para a cidade e abrem uma pensão que passou a ser gerenciada pela esposa, ao lado do Hotel Colibri.

Os dias foram se passando e Arlindo passou a apresentar alguns problemas de saúde. O coração fraquejava e o colesterol também castigava. Por esse motivo, os filhos acharam por bem levar os pais para a capital para ficarem mais próximo de tratamentos específicos. Morando lá, teve um derrame e foi submetido a uma cirurgia, a qual não resistiu, falecendo em 6 de dezembro de 1986 na capital do Estado.

Conhecendo o amor de Arlindo por Tangará da Serra, após algum tempo, os filhos transladaram os restos mortais do pai que repousa na terra que escolheu para viver e descansar.


  •  A Homenagem:

Por tamanhos trabalhos prestados ao município de Tangará da Serra, Arlindo teve seu nome eternizado em uma geração de filhos, netos, bisnetos, noras e genros fieis à Palavra de Deus. Como reconhecimento à luta e amor por essa terra que escolheu para viver, Arlindo Lopes também tem o seu nome eternizado na antiga Rua 3.



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